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Um olhar sobre a nova Presidência da CNBB

A NOVA DIREÇÃO DA CNBB

Novos rumos para a instituição enfrentar os desafios dos tempos atuais!?

 

         O grande legado da 60ª Assembleia Geral Ordinária – AGO – da CNBB é a escolha da nova equipe gestora da instituição: a presidência e o Conselho de Pastoral – CONSEP. Os eleitos foram empossados na sexta-feira, dia 27 de abril, para um mandato de quatro anos que vai até a AGO de 2027. Desta vez a Assembleia eletiva não aprovou, como de costume, as Diretrizes da Ação Evangelizadora –  DGAE para o quadriênio. Levando em conta as dificuldades que se teve para implementar as DGAE 2019 a 2023, por conta das restrições impostas pelos cuidados sanitários por conta da pandemia da COVID 19, optou-se por prorrogar as diretrizes atuais até 2025, quando serão revisadas ou renovadas. Desta forma, inaugura-se uma nova experiência na Conferência de que as diretrizes de ação comecem no meio de um mandato e se estendam até o meio do mandato seguinte. O que, em tese, pode garantir melhor a continuidade da linha de ação da CNBB.

         Como a presidência e os membros do CONSEP são eleitos por maioria absoluta dos votos dos bispos presentes na AGO trazem também um indicativo do que o conjunto do episcopado pensa para a CNBB nos próximos quatro anos e que avaliação fazem da gestão que termina. Vejamos então como ficaram compostas essas instâncias: o presidente Dom Jaime Spengler, arcebispo de Porto Alegre/RS, foi o primeiro vice-presidente da gestão anterior, Dom João Justino de Medeiros, arcebispo de Goiânia/GO, fez parte do CONSEP anterior como presidente da Comissão para Educação e Cultura, Dom Paulo Jackson da Nóbrega, bispo de Garanhuns/PE, compunha o antigo Conselho Permanente, como presidente do regional Nordeste 2 (Pernambuco, Rio Grande do Norte, Paraíba e Alagoas). O novo secretário geral, Dom Ricardo Hoepers, bispo de Rio Grande/RS também compunha o antigo CONSEP como presidente da Comissão Vida e Família. Ou seja, toda a presidência eleita compôs a gestão anterior, o que indica uma grande satisfação do episcopado brasileiro com a forma com que a CNBB foi conduzida nos últimos quadriênios, não obstante os muitos e fortes ataques sofridos pela mesma. É importante lembrar que na CNBB o secretário geral tem grande importância, pois cabe a ele conduzir o dia a dia da Conferência com seu corpo de colaboradores, os/as assessores/as das comissões e a rotina da sede, onde deve residir.

         Já o novo CONSEP sofreu maiores mudanças com a inclusão de novos nomes, inclusive de bispos recém nomeados como Dom Valdir José de Castro, bispo de Campo Limpo/SP, para a Comissão de Comunicação Social. Porém os presidentes das Comissões do Laicato e da Ação Sócio Transformadora foram reeleitos em primeiro escrutínio.  Dom Giovane Pereira de Melo, bispo de Araguaína/TO (CEPL) e Dom José Valdeci Santos Mendes, bispo de Brejo/MA (CEPAST) demonstraram contar com forte apoio dos irmãos no episcopado para continuar na condução das respectivas comissões. Dom Giovane continua, portanto, na presidência do CEFEP, que tem garantida a continuidade dos trabalhos dos últimos quatro anos.

         Quais são os desafios impostos à nova presidência e novo CONSEP? Não são poucos. No pós vacina da pandemia da COVID 19, que evidenciou o que o Papa Francisco já vinha denunciando: uma multicrise de fatores entrelaçados, “Tudo está interligado” – LS, alguns desafios sobressaem como mais urgentes ou que vão se impor com maior violência: a polarização da sociedade, um fenômeno que vai além do Brasil e é um fenômeno mundial; a emergência de um neoconservadorismo internacional que está organizado em uma poderosa rede de instituições internacionais que, descontentes com a Igreja do Concílio Vaticano II e do Papa Francisco, pretendem interferir em sua dinâmica interna; a grave crise socioambiental que atinge fortemente o Brasil com a destruição da Casa Comum e a financeirização da economia que privilegia o econômico em detrimento da pessoa humana e da vida. Essa última crise leva sofrimento e morte à grandes contingentes de pessoas, sobretudo os periféricos e os povos originários e à todas as formas de vida existentes. Por fim, um desafio mais interno que se imporá é a diminuição do número de católicos. Há quem diga que o censo em caminho deverá apontar que já somos menos de 50% da população. Nesses próximos quatro anos a nova direção da CNBB terá que dar uma palavra firme sobre essas questões.

         Mas, qual é mesmo o papel da CNBB? Quase sempre ouvimos ou lemos o que se espera da Conferência dos bispos e as expectativas são muitas. Porém a natureza da CNBB é a de ser um organismo de comunhão e de serviço dos bispos e para os bispos. Em tempos passados, sobretudo nos primeiros anos de sua existência, a CNBB constituiu-se em uma voz profética que se fez ouvir em vários âmbitos da sociedade denunciando injustiças e propondo caminhos de justiça e de paz. Porém a instituição é um órgão dos bispos, que com toda a importância teológica que possuem, não são toda a Igreja. São suas lideranças sim, mas não todo o povo de Deus que a constitui. Como instituição de bispos, classe dirigente da Igreja Católica, tem como papel sempre buscar o consenso. Certamente, em momentos de possíveis radicalizações optará por estar de forma conciliadora, ao centro, evitando os dissensos ou radicalismos. É na CNBB que os bispos procurarão resolver seus antagonismos para seguirem firmes como um sinal de unidade na sociedade. A presidência da CNBB e seus conselhos estarão na liderança desses processos. Porém, é sempre bom lembrar que além da CNBB, os diversos setores da Igreja Católica estão organizados em organismos, chamados, do Povo de Deus: os cristãos leigos e leigas no CNLB, os religiosos e as religiosas na CRB, os padres no CNP, os diáconos no CND, os institutos seculares na CNISB.

         Que a nova presidência da CNBB e o CONSEP consigam, iluminados pela presença do Ressuscitado, conduzir a Igreja do Brasil pelos melhores caminhos.