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Papa Leão XIV – Um Palpite

“Agora é tempo de ser Igreja, caminhar juntos, participar.”

(Canção de Ir. M. Luiza Ricciard, FSP)

 

Primeiro, o cardeal Robert Francis Prevost, agora Papa Leão XIV, é o nosso bispo de Roma e Pastor universal da Igreja. Estamos em comunhão com ele e com ele queremos caminhar juntos, como nos pediu do alto da sacada da Basílica de São Pedro.

Segundo: por que um palpite? Porque é muito cedo para qualquer afirmação ou avaliação de como será o seu ministério papal. Corremos o risco de imaginar um Papa ao nosso sabor e não nos deixarmos guiar por uma nova etapa da vida da Igreja.

Vamos ao palpite. Seu lema diz muito de si, de sua vocação agostiniana e de sua missão: “In Illo Uno Unum”, que se traduz como: “Embora nós, cristãos, sejamos muitos, no único Cristo, somos um.” Ele assume completamente o sonho de Jesus: “Pai, que todos sejam um.” Este lema deve ter impulsionado o seu chamado por uma Igreja sinodal, para que caminhemos juntos, como disse em sua apresentação na sacada de São Pedro, continuando, ao seu modo, o caminho aberto pelo Papa Francisco.

E suas vestes na apresentação como Papa? Foi um gesto de encontro para conservar e renovar? Acho que sim. Com seus sapatos pretos e sua cruz peitoral, que já usava como bispo e cardeal, como mostraram as primeiras imagens no encontro informal e cheio de significados com os fiéis e colaboradores, e de sua emocionante visita ao túmulo do Papa Francisco na Basílica de Santa Maria Maior.

Começou falando de paz: da paz do Ressuscitado, da Páscoa, da paz desarmada e desarmante, do diálogo, da reconciliação. E aqui não aparece apenas o Papa Francisco, mas também o grande Papa da Paz, que foi São João XXIII.

Seu nome, Leão, remete ao mundo do trabalho e ao chamado do Papa Leão XIII por uma Igreja comprometida com os trabalhadores e trabalhadoras, com os excluídos, com os sofredores. Aqui, mais uma vez, vemos continuidade com o Papa Francisco, com toda a doutrina social da Igreja e com a opção pelos pobres, que faz parte de nossa fé cristológica – assim como afirmou o Papa Bento XVI em seu discurso de abertura da Conferência de Aparecida (2007).

Francisco se apresenta como Papa pela primeira vez numa noite fria de Roma e numa conjuntura muito desfavorável à Igreja, por uma série de escândalos à época e após a firme e corajosa renúncia de Bento XVI. Aparece pela última vez numa manhã de Páscoa, dia de sol, em uma conjuntura totalmente diferente da de 2013 – de uma Igreja muito mais radiante. Deve ter meditado, como o velho Simeão: “Agora, Senhor, deixa teu servo ir em paz, meus olhos contemplaram a tua salvação” – e deixou o caminho livre para a escolha de um novo Papa.

Leão XIV aparece num final de tarde com muito sol ainda, de um dia bonito em Roma, e logo seu sorriso e sua emoção conquistam o mundo. Apesar de um cenário global fragmentado, de ódios e muros, e de uma Igreja que superou muitas dificuldades, caminhou, cresceu, fez reformas, abriu novos caminhos – mas que ainda precisa, internamente, de novas pontes e diálogos – parece que a simplicidade e o sorriso do novo Papa conduzirão às conciliações necessárias.

Francisco, na Evangelii Gaudium, convocou a Igreja para uma nova etapa de sua missão evangelizadora, que deveria ser fortemente marcada pela alegria do Evangelho, que transforma a vida e renova todas as coisas. A alegria e a boa notícia, sempre!

Leão XIV, lembrando Leão XIII da Rerum Novarum, das “coisas novas”, imagino que, em seu coração, e por causa da centralidade em Jesus Cristo, deve convocar a Igreja a anunciar essas coisas novas. Ou seja: o Evangelho nunca é tristeza, desânimo, opressão ou muros, mas sempre alegria, encontro, conversão e vida nova – “Eis que faço novas todas as coisas.”

Leão XIV, na sua mensagem aos cardeais na manhã do dia 10 de maio, fez um forte convite profundamente conectado com o Concílio Vaticano II, e tomo a liberdade de dizer também com a caminhada da Igreja Latino-Americana, tão bem conhecida por ele, com o seu coração latino. Eis um trecho:

 “A este respeito, gostaria que hoje renovássemos juntos a nossa plena adesão a este caminho, que a Igreja universal percorre há décadas na esteira do Concílio Vaticano II. O Papa Francisco recordou e atualizou magistralmente os seus conteúdos na Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, da qual gostaria de sublinhar alguns pontos fundamentais: o regresso ao primado de Cristo no anúncio (cf. n. 11); a conversão missionária de toda a comunidade cristã (cf. n. 9); o crescimento na colegialidade e na sinodalidade (cf. n. 33); a atenção ao sensus fidei (cf. nn. 119-120), especialmente nas suas formas mais próprias e inclusivas, como a piedade popular (cf. n. 123); o cuidado amoroso com os marginalizados e os excluídos (cf. n. 53); o diálogo corajoso e confiante com o mundo contemporâneo nas suas várias componentes e realidades (cf. n. 84; Concílio Vaticano II, Const. past. Gaudium et Spes, 1).”

Francisco de Roma e Leão XIV lembram o Francisco e o Leão de Assis: ambos amigos, companheiros de jornada e missão, renovadores. Poderemos ver em Roma essa “dobradinha”? Com um novo jeito e estilo?

Mas palpite é palpite. Vou acertar? Vou errar? Melhor seguir com o tempo e com a missão de batizados/as.

Na esperança e gratidão pelos 60 anos da conclusão do Concílio Vaticano II, pelo ministério do Papa Francisco, pelo Jubileu da Esperança e na comunhão com o Papa Leão XIV, pelas coisas novas que hão de vir com a inspiração e ação do Divino Espírito Santo.

Caminhemos!

 

Roberto Jefferson Normando

Coordenador Executivo do Observatório Social do Nordeste
 Membro da Articulação Brasileira e do Nordeste pela Economia de Francisco e Clara
 Membro da Rede de Assessores do Centro Nacional de Fé e Política Dom Helder Câmara (CNBB)
 Membro do Conselho de Leigos e da Escola de Fé e Política da Diocese de Campina Grande – PB