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Justiça e Paz são Instrumento de Esperança

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por Rodrigo Marzano Antunes Miranda*

  1. Em um mundo em guerra, como a manutenção da Paz e a busca pela Justiça são sinais de esperança para nós?

Em um cenário global marcado por conflitos e tensões, a busca pela paz e pela justiça emerge como um farol de esperança. A manutenção da paz e a promoção da justiça não são apenas ideais abstratos, mas ações concretas que refletem a dignidade humana e a solidariedade entre os povos. A Igreja Católica, através de diversos documentos, tem reiterado a importância desses valores como pilares fundamentais para a construção de um mundo mais justo e pacífico. A encíclica Pacem in Terris (1963), do Papa João XXIII, afirma: “A paz na Terra, anseio profundo dos seres humanos de todos os tempos, só pode ser firmemente estabelecida se a ordem estabelecida por Deus for respeitada” (João XXIII, 1963, n. 1). A Constituição Pastoral Gaudium et Spes (1965), do Concílio Vaticano II, declara: “A paz não é apenas ausência de guerra, mas a obra da justiça” (Concílio Vaticano II, 1965, n. 78). A encíclica Sollicitudo Rei Socialis (1987), do Papa João Paulo II, enfatiza: “A paz é fruto da justiça e efeito da caridade” (João Paulo II, 1987, n. 39). Mais recentemente, a encíclica Caritas in Veritate (2009), do Papa Bento XVI, sublinha que “A paz é um bem indivisível. Ou é de todos ou não é de ninguém” (Bento XVI, 2009, n. 7). Esses documentos oferecem uma visão clara de que a paz e a justiça são interdependentes e essenciais para a esperança de um futuro melhor. Trabalhar dia após dia para construção da Paz é de fato realização no mundo da Esperança de Deus no humano e dever de todo cristão.

  1. Como podemos diferenciar expectativa de dias melhores e esperança de dias melhores?

Em um mundo repleto de desafios e incertezas, é crucial distinguir entre expectativa e esperança. Expectativa refere-se a uma antecipação racional e muitas vezes baseada em circunstâncias concretas e previsíveis. É uma projeção de resultados futuros com base em dados e tendências atuais. Por exemplo, alguém pode ter a expectativa de que, com a vacinação em massa, a pandemia de COVID-19 será definitivamente controlada. Esperança, por outro lado, é uma virtude teologal que transcende as circunstâncias imediatas e se fundamenta na fé e na confiança em Deus. A esperança não depende de evidências tangíveis, mas de uma confiança profunda na providência divina e na capacidade humana de superar adversidades com a ajuda de Deus. A encíclica Spe Salvi (2007), do Papa Bento XVI, afirma que “a esperança cristã não é apenas uma expectativa, mas uma confiança na promessa de Deus” (Bento XVI, 2007, n. 2). A Constituição Pastoral Gaudium et Spes (1965), do Concílio Vaticano II, declara que “a esperança não decepciona, porque o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado” (Concílio Vaticano II, 1965, n. 22). A encíclica Lumen Fidei (2013), do Papa Francisco, sublinha que “a esperança é a certeza de que Deus nos ama e nos acompanha, mesmo nas situações mais difíceis” (Francisco, 2013, n. 57).

  1. O tema da festa esse ano é “Mãe Aparecida, acolhei-nos como peregrinos da esperança”, inspirado no Jubileu da Esperança, proposto pelo Papa Francisco. Justiça e Paz, caminham juntas com esse tema e com o Jubileu?

O tema da festa deste ano, “Mãe Aparecida, acolhei-nos como peregrinos da esperança”, inspirado no Jubileu da Esperança proposto pelo Papa Francisco, ressoa profundamente com os valores de justiça e paz. A esperança cristã, como ensinada pela Igreja, é inseparável da justiça e da paz. A encíclica Fratelli Tutti (2020), do Papa Francisco, destaca que “a paz verdadeira e duradoura só pode ser alcançada através da justiça social e do respeito pela dignidade humana” (Francisco, 2020, n. 127). O Jubileu da Esperança é uma oportunidade para renovar nosso compromisso com esses valores, reconhecendo que a paz e a justiça são fundamentais para a construção de um mundo mais humano e solidário.

Neste cenário, precisamos de fato realizar e não só esperançar: ações concretas pela Paz entre os povos, devem ser o horizonte de quem vislumbra a Deus como Cristão. Viver em abundância é a grande realização da promessa de Deus em nossas vidas (João, 10,10). Assim, diante de tais perguntas quero fazer uma crítica à Organização da União Europeia (UE), pertinente a realidade recente, que vivenciamos, pois a União Europeia (UE) foi criada com a intenção de promover a paz e a cooperação entre nações que, historicamente, estiveram em conflito. No entanto, a organização enfrenta críticas em vários aspectos que comprometem sua eficácia como instrumento de justiça e paz. A UE é frequentemente criticada por sua burocracia complexa e ineficiente, que pode dificultar a implementação de políticas eficazes de paz e justiça. A centralização excessiva de decisões em Bruxelas pode alienar os cidadãos dos estados membros, criando um sentimento de desconexão e desconfiança. Além disso, a disparidade econômica entre os estados membros é uma questão persistente. Países mais ricos, como Alemanha e França, têm mais influência nas decisões da UE, enquanto países mais pobres, como Grécia e Portugal, muitas vezes enfrentam dificuldades econômicas sem o apoio adequado. A política de migração da UE também tem sido alvo de críticas por sua falta de coesão e solidariedade. A crise migratória expôs falhas significativas na capacidade da UE de lidar com a chegada de refugiados e migrantes de maneira justa e humana. Por fim, a UE tem dificuldades em apresentar uma política externa unificada e eficaz. A falta de consenso entre os estados membros sobre questões internacionais pode enfraquecer a posição da UE como um ator global em prol da paz e da justiça.

Ou seja, a distinção entre expectativa e esperança é fundamental para compreender a verdadeira natureza da esperança cristã, que se baseia na fé e na confiança em Deus. A Igreja Católica, através de seus ensinamentos, oferece uma visão de esperança que transcende as circunstâncias imediatas e se fundamenta na providência divina. No entanto, a eficácia de organizações como a União Europeia em promover esses valores depende de sua capacidade de superar desafios internos e agir de maneira coesa e justa.

 

Referências:

Bento XVI. Spe Salvi. Vaticano, 2007.

BÍBLIA. Bíblia de Jerusalém. Nova edição revista e ampliada. São Paulo: Paulus, 2002.

Concílio Vaticano II. Gaudium et Spes. Vaticano, 1965.

Francisco. Lumen Fidei. Vaticano, 2013.

Francisco. Fratelli Tutti. Vaticano, 2020.

*Doutorando do Programa de pós-graduação em Cidadania e Cidadania, Direitos Humanos, Ética e Política da Faculdade de Filosofia, da Universitat de Barcelona, linha de pesquisa: 101157 Filosofias do Sujeito e da Cultura (UB 2019-), orientado pelo Prof. Dr. Gonçal Mayos Solsona, mestre em Direito pela UFMG (2019), especializado em Formação Política (lato sensu) PUC-RJ (2007), Graduado em Filosofia (bacharel licenciado) PUC-MG (2005). Membro de dois grupos de pesquisa: o Grupo de Pesquisa dos Seminários Hegelianos (UFMG) e o Grupo internacional de Pesquisa em Cultura, História e Estado (UFMG-UB). Sócio efetivo colaborador da Sociedade Hegel Brasileira. Assessor do Centro Nacional de Fé e Política Dom Helder Câmara. Cf. http://lattes.cnpq.br/8767343237031091. E-mail: agendamarzano@gmail.com.