Divididos em 45 pequenas comunidades, com cerca de 10 participantes cada, o episcopado brasileiro, com silêncio orante, deu início à primeira rodada do processo de “escuta do Espírito Santo e dos irmãos para a contribuição dos bispos na construção das Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil”, como indicou o arcebispo de Goiânia (GO) e primeiro vice-presidente da CNBB, dom João Justino de Medeiros Silva, ao motivar a formação dos grupos.
O método prevê três rodadas precedidas sempre por um momento de oração e silêncio. Na primeira, todos partilham seus pensamentos e sentimentos em relação à questão apresentada. O convite é para focar na escuta do outro. Na segunda, cada um fala sobre o que mais chamou atenção na escuta realizada. O convite é enfatizar sobre o que mais tocou e desafiou cada um. Na terceira rodada, identifica-se os pontos chaves e constrói-se um consenso sobre os elementos centrais que surgiram a partir do discernimento em grupo iluminado pelo Espírito.
As comunidades de oração e diálogo estão sendo conduzidas por bispos facilitadores e assessores da CNBB que, como secretários, têm a missão da relatoria dos momentos de escuta que ocorrerão durante a reflexão sobre as DGAE.
Escuta com coração
O bispo auxiliar de São Paulo (SP), dom Cícero Alves de França, disse que a dinâmica adotada pela CNBB, inspirada na etapa Continental do Sínodo sobre a Sinodalidade e também na primeira sessão da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos em Roma, no mês de outubro do ano passado, se apresenta como “um grande momento de aprendizado para desenvolver a escuta ativa” que, segundo ele, trata-se “de uma escuta reflexiva, que vai do cérebro ao coração e que leva em conta o respeito e a atenção que se deve dar para que fala”.
Uma das secretárias dos grupos, a assessora da Comissão dos Ministérios Ordenados e Vida Consagrada (CMOVIC) da CNBB, irmã Maristela Ganassini, destacou que o momento de oração e silêncio, proposto nas pequenas comunidades antes da ‘Conversa no Espírito’, “favorece para que aconteça, primeiramente, a escuta de si, dos outros e, principalmente, da vontade de Deus”. Para ela, a tendência da dinâmica proposta “contribui para que aconteça um trabalho leve, participativo e sinodal”, finalizou.
“Temos a tendência de responder as perguntas nos trabalhos de grupo, o diálogo no Espírito favorece a escuta de cada pessoa a partir a proposição realizada. Entra em jogo não apenas as ideias, mas as reações do próprio coração”, afirmou o bispo de Rondonópolis–Guiratinga (MT) e presidente da Comissão Episcopal para a Ação Missionária e a Cooperação Intereclesial, dom Maurício da Silva Jardim. Ele explicou que o método adotado pela Conferência Episcopal favorece “o exercício de ouvir a cada um, enriquecerá e ampliará os horizontes para uma resposta pastoral mais qualificada que responda os desafios da ação evangelizadora no Brasil”.
Sobre a expectativa da dinâmica eclesial, o padre Guilherme Maia Junior, também da CMOVIC e responsável pela relatoria de um dos grupos, disse que “é a de que este momento ajude a Igreja a crescer no caminho de evangelização”. Ele falou que ao auxiliar em uma das pequenas comunidades e ver todo o movimento da AG “é bonito perceber que, em união com o Papa Francisco, os bispos querem construir um caminho onde todos possam falar e escutar, possibilitando, assim, que Deus fale e continue como sempre inspirando a Igreja”.
O arcebispo de Maceió (AL), dom Carlos Alberto Breis Pereira, facilitador de um dos grupos, enfatizou que escutar é diferente de ouvir e que o método utilizado na AG “coloca o coração em atenção e abertura diante do que o outro fala”.
Segundo a secretária-executiva do regional Norte 2 da CNBB, Cristiane Araújo de Queiroz, a oração e o silêncio, já experimentados espiritualmente por muitas comunidades em todo o Brasil e exercidos na 61ª edição da AG, requer um movimento de escuta: “a escolha do método sinodal enriquece o trabalho da Igreja no Brasil”. Cristiane, que atua na região amazônica, indicou que no grupo que participou na tarde de hoje, “a partilha levou em consideração o protagonismo de todos na vivência da fé”.