“A ausência da fraternidade nos leva a desviar o olhar do irmão que tem necessidade de valor, alimento e lugar”. Hino CF 2023
A Campanha da Fraternidade (CF) de 2023 traz como tema Fraternidade e Fome e o lema “Dai-lhes vós mesmos de comer” (Mt 14,16). Desde o seu início, nos anos de 1960 é a terceira vez que o tema fome é retratado. A primeira em 1975 fala em repartir (Repartir o pão) a segunda em 1985 lembrava que era preciso doar (Pão para quem tem fome), nesta existe uma ordem e no plural (Dai-lhes vós mesmos de comer). O Brasil, pais que se diz de maioria cristão e majoritariamente católico saber que por três vezes vamos discutir sobre pessoas passando fome causa apreensão e questionamento do tipo de fé que temos, afinal de contas está lá… ‘tive com forme e me destes de comer’ (Mt 25). Que agir cristão é esse que no celeiro do mundo as pessoas passam fome?
Pelos dados oficiais mais de trinta e três milhões de brasileiros passam fome e cento e vinte milhões de brasileiros vivem de insegurança alimentar – não sabem se terão o que comer no dia seguinte. Em Caxias do Sul estima-se que trinta mil passam fome.
Além de mostrar indignação “de tal maneira que nos faça descer de nossa serenidade, alterando-nos com o sofrimento humano” (FT 68) o papa Francisco na mensagem enviada para esta campanha diz que a fome é criminosa e a alimentação é um direito inalienável. É evidente que diante deste cenário temos que agir de forma concreta porque como dizia o sociólogo Herbert de Souza (Betinho) “quem tem fome tem pressa” por isso em todas as paróquias que de fato se sentem comprometidas com o Evangelho de Jesus Cristo tem o apelo para doações de alimentos, mas é dever também de ir às causas dessa situação.
Algumas causas como o desperdício, o consumismo, a produção quase que exclusiva das monoculturas (milho e soja) que não estão voltadas para a alimentação da população e sim como um ‘bom negócio’ na bolsa de valores, o descarte dos alimentos por falta de acesso ou de ‘lucro’, as desigualdades e injustiças… a indiferença.
Uma das saídas para esta ‘fome de pão’ é entender que o alimento é um direito de todos e que é necessário a valorização dos pequenos produtores e não simplesmente querer produtividade, valorizar a economia solidária, cuidar de nossa casa comum, valorizar e cuidar da água, a reforma agrária, programas de trabalho e renda, exigir ações governamentais que priorizem quem está mais necessitado, frear esta forma moderna de consumismo. Não podemos permitir que a alerta de Josué de Castro (médico, geografo e cientista social brasileiro) que dizia que a “metade da humanidade não come; e a outra não dorme, com medo da quem não come” chegue de forma concreta.
Estamos na Campanha da Fraternidade e fraternidade só será possível se não tivermos ninguém com forme. Ouso em dizer que se nós católicos acreditamos no pão e no vinho eucarístico acreditamos na mesa sóbria para todos. Que o milagre da comida atinja nossos corações e que “não deixemos que nos roubem o ideal do amor fraterno”. (EG 101)
Fica aqui também uma espécie de provocação: Lutar contra outras fomes que roubam a dignidade humana, onde as pessoas estão sem emprego, sem saúde, educação, casa, terra, com medo de sair para a rua por conta da raça, cor, gênero…
“Pai de bondade, ao ver a multidão faminta, vosso Filho encheu-se de compaixão, abençoou, repartiu os cinco pães e dois peixes e nos ensinou: “dai-lhes vós mesmos de comer”.
Confiantes na ação do Espírito Santo, vos pedimos: inspirai-nos o sonho de um mundo novo, de diálogo, justiça, igualdade e paz; ajudai-nos a promover uma sociedade mais solidária, sem fome, pobreza, violência e guerra; livrai-nos do pecado da indiferença com a vida.
Que Maria, nossa mãe, interceda por nós para acolhermos Jesus Cristo em cada pessoa, sobretudo nos abandonados, esquecidos e famintos. Amém”
José Antonio Somensi (Zeca)
Coordenação da Escola de Formação, Fé, Política e Trabalho.