EVENTO EM CONFRESA – MT, TEM LANÇAMENTO DE LIVRO DE PROFESSOR DO CURSO NACIONAL DE FÉ E POLÍTICA DO CEFEP, ANTÔNIO CANUTO
A III JENPEX – Jornada de Ensino, Pesquisa e Extensão na formação integral dos sujeitos na região Araguaia Xingu”, aconteceu entre os dias 30 de outubro a 01 de novembro de 2019, o IFMT Campus Confresa com a finalidade de criar um espaço/tempo para fortalecer e incentivar a prática da pesquisa, ensino e extensão, na temática formação integral dos sujeitos da região, por meio da socialização das experiências vivenciadas e dos resultados de estudos realizados no âmbito do IFMT Campus Confresa e por instituições externas.
No dia 1º de novembro, a convite do diretor do Campus, professor Giliard Brito de Freitas compus a mesa redonda com o reitor do IF MT, Prof. Willian Silva de Paula e aluno egresso do campus, Kaime Silvestre Silva Oliveira, representante do Brasil na ONU. O tema para discussão foi “Políticas Públicas Educacionais voltadas para os Direitos Humanos e a construção de uma Cultura de Paz”. Tendo eu residido na região, em Canabrava do Norte MT entre 2011 e 2015, notei a qualidade do evento, o empenho dos professores e a atenção dos alunos, todos da região, em discutir um futuro melhor e mais saudável, fundamentado numa cultura de paz que respeite os Direitos Fundamentais da Pessoa Humana. De fato, há boas iniciativas acontecendo e há também pessoas, muitas!, que acreditam nessas iniciativas e numa nova cultura.
À tarde participei, ainda do Campus Confresa do IFMT, de uma sessão de lançamento de vários livros, inclusive com a participação do povo indígena tapirapé – Apyãwa, na língua deles. Dentre as obras apresentadas, destaco duas que tem como referência a Igreja da Prelazia de São Félix do Araguaia, liderada pelo bispo Pedro Casaldáliga, hoje com 92 anos.
Antônio Canuto, que é professor do Curso Nacional de Fé e Política do CEFEP, fez o lançamento do livro RESISTÊNCIA E LUTA CONQUISTAM TERRITRÓRIO NO ARAGUAIA MATO-GROSSENSE, editado pela editora Outras Expressões. Tendo trabalhado por 18 anos na região do Araguaia, mais especificamente Santa Terezinha e Porto Alegre do Norte, como padre da congregação dos claretianos e agente de pastoral da prelazia de São Félix, Canuto viveu, ele mesmo, a maior parte dos fatos que relata, e por isso os descreve com realismo. Como diz o professor Luiz Augusto Passos na apresentação do livro, repetindo São Paulo “…com sangue no coração”. Hoje, Canuto constituiu família e mora em Goiânia continuando como agente da Comissão Pastoral da Terra – CPT, pesquisa a ocupação do território do Araguaia mato-grossense e assessora cursos na área de agroecologia.
A obra traz uma descrição minuciosa e realista do processo de ocupação do território do Baixo Araguaia / Araguaia mato-grossense. A ocupação se deu primeiro pelos povos indígenas cuja chegada remonta a tempos imemoriais. Depois vieram os sertanejos e por fim as grandes empresas colonizadoras, em busca dos recursos financeiros fáceis e abundantes do governo militar que pretendia “ocupar” a Amazônia. A obra de Canuto organiza-se em uma ilustrativa Introdução e quatro capítulos. A introdução se intitula “O processo de ocupação da região Norte Araguaia”; o 1º capítulo: “Os povos indígenas”; 2º capítulo: “O Araguaia: caminho de penetração de não indígenas”; 3º capítulo: “Não indígenas ocupam território à partir das margens dos rios” e por fim, o 4º capítulo: “As Colonizadoras”.
A segunda obra que quero destacar é da pedagoga Alessandra Pereira Carneiro Rodrigues, chegada a região mais recentemente. Alessandra publicou sua obra “Uma história da Cartilha do Araguaia “… ESTOU LENDO!!!”. Alessandra estuda a cartilha de alfabetização “… ESTOU LENDO!!!”, obra feita em mutirão, adaptando o método Paulo Freire à região do Araguaia. A cartilha foi construída por agentes de pastoral da prelazia de São Félix e professores atuantes na região. Seu período de vida foi de 1978 quando foi publicada pela primeira vez a 1989, quando se tem a última notícia de sua utilização publicada em periódico nacional.
Estas duas obras trazem à luz a história de lutas e resistência do povo do “Vale dos Esquecidos” – expressão cunhada pelo bispo Pedro Casaldáliga quando chegou à região no final dos nãos 60, devido a total ausência do estado. A Igreja Católica, através da ação da prelazia de São Félix, foi a facilitadora e a parceira desta luta levada a cabo por um povo bastante diversificado, mas unido no mesmo ideal, de fixar-se na região. Tal luta transformou o futuro do Baixo Araguaia que no pensar do governo militar estava destinado a ser constituída de mega latifúndios em uma terra que já abrigava povos indígenas renascidos como os Apyãwa e posseiros chegados de várias partes do país. Uma das fazendas da região, a famigerada Suiá Missu, chegou a ser o maior latifúndio do mundo. Hoje, no entanto, o agronegócio com grandes fazendas de soja, algodão e gado, de novo ameaça o meio ambiente e os pequenos proprietários e povos indígenas que habitam esse território. Animados pelo anúncio do “Vale das Oportunidades” – expressão usada pelo agronegócio em oposição ao “Vale dos Esquecidos” de Pedro Casaldáliga, chegam também pequenos agricultores e pecuaristas sulistas que tentam abocanhar o seu quinhão dos altíssimos lucros do agronegócio no comércio internacional.
Quando escrevo esse pequeno texto estamos impactados pela notícia de que o governo Bolsonaro enviou ao Congresso um projeto de lei que extingue os municípios com menos de 5.000 habitantes, o que acaba com boa parte dos municípios da região do Araguaia e que suspendeu a proibição da cultura de cana de açúcar na região Amazônica.
Paulo Adolfo Simões
Padre da arquidiocese de Pouso Alegre MG e secretário executivo do CEFEP