No último dia 16 de fevereiro completou 91 anos de vida Dom Pedro Casaldáliga, bispo, profeta, poeta dos pobres, dos povos indígenas, dos posseiros, da Amazônia! Nascido na Catalunha, Espanha, fez-se brasileiro sertanejo por opção, ao assumir pisar a terra vermelha do nordeste do Mato Grosso como seu chão.
Às margens o rio Araguaia, fez sagrar-se bispo, tempo por insígnias um chapéu de posseiro e um remo de pescador. Numa carta pastoral de primeira hora denunciou as seculares injustiças da Amazônia e fez de sua vida denúncia, profecia e poesia, sacramento de sangue e amor.
Terra nossa, Liberdade
Esta é a Terra nossa
a Liberdade
humanos!
A Terra dos Homens
que caminham por ela,
pé descalço e pobre.
Que nela nascem,
dela para crescer com ela,
como troncos de Espirito e de Carne.
Que se entregam a ela,
cada dia,
e a entregam a Deus e ao Universo
em pensamento e suor,
em sua alegria,
e em sua dor,
com o olhar
e com a enxada
e com o verso
Prostitutos cridos
da mãe comum,
seus malnascidos!
Malditas sejam as cercas vossas,
as que vos cercam por dentro,
gordas, sós,
como porcos cevados
fechando,
com seu arame e seus títulos,
fora de vosso amor,
aos irmãos!
( Fora de seus direitos,
seus filhos
e seus prantos
e seus mortos,
seus braços e seu arroz1)
Fechando-os
fora dos irmãos
e de Deus!
Malditas sejam
todas as cercas!
Malditas todas
as propriedades privadas
que nos privam
de viver e de amor!
Malditas sejam todas as leis
amanhadas por umas poucas mãos
para apararem cercas e bois
e fazer a Terra escrava e
os escravos os humanos!
Outra é a Terra nossa,
homens, todos!
A humana Terra livre, irmãos!
(CASALDÁLIGA, 1978, pp. 192-193)3