Eugênio Magno
Comunicólogo e Doutor em Educação
Fundador e Ativista do lapEs
laboratório ambulante de poéticas Educacionais
e Asssessor do CEFEP
O presidente eleito, Jair Bolsonaro e sua equipe, especialmente a econômica, têm falado muito e criado um misto de expectativa e mal entendidos.
Alguns líderes da classe empresarial brasileira estão eufóricos com o que vem sendo anunciado pelo capitão reformado, que será empossado presidente da república em 2019, notadamente no que diz respeito às privatizações e a reforma trabalhista. Distanciados de representações dos trabalhadores e de membros da academia, o novo governo, sua equipe econômica, o grande staff militar que compõe os ministérios, alguns setores da mídia e do empresariado, comemoram antecipadamente o novo governo. Só faltou combinar com a população.
As expectativas são por demais otimistas para um governo cuja falta de experiência na administração pública deveria deixar o setor produtivo com as barbas de molho. Um exemplo disso é a projeção extremamente tímida de crescimento do PIB, cuja média projetada é de apenas 2,5% para os anos de 2019, 2020, 2021 e 2022. A julgar pela desastrosa política econômica implantada por Macri, à frente do executivo do país de nuestros hermanos argentinos, a prescrição dos Chicago Boys, definitivamente, não é receita para todos os males da América (do Sul).
Alguns dados que nos chamam a atenção:
– Na Previdência, números apontam déficit de R$90 mil/ano para cada militar, R$70 mil/ano para cada funcionário público dos três poderes e R$7 mil/ano para cada trabalhador da iniciativa privada. Esses números nos convidam a refletir com cautela e profundidade sobre a maneira correta de se abordar a reforma da Previdência;
– As contas públicas do país fecharão o ano com um rombo próximo de R$150 bilhões e o Bolsa Família – programa que atende cerca de 15 milhões de famílias e é tão criticado por alguns setores da sociedade –, não consome nem R$2,5 bilhões das despesas da União.
A população sente falta, na pauta da equipe econômica do novo governo, de uma discussão das questões sociais, uma vez que, em se tratando de um país de grandes desigualdades e de IDH tão baixo como o Brasil, falar de economia sem preocupação com a (re)distribuição de renda e com a agenda social, não faz o menor sentido.
As principais críticas ao Programa de Governo de Jair Bolsonaro se dirigem à esfera política e aos direitos humanos. Todavia, especialmente na última semana, questões referentes à ética e a moralidade pública ganharam destaque, tendo em vista que este governo se elegeu empunhando a espada do combate à corrupção e, alguns de seus principais colaboradores, antes mesmo da posse, já se encontram sob a mira da Justiça.
No que diz respeito à Economia, vale ressaltar que o setor produtivo é composto pelas classes empresarial e trabalhadora. Desenvolvimento econômico só é possível com essa parceria, mas nessa onda de euforia bolsonarista não temos visto, nem ouvido, por parte de empresários e do futuro presidente, nenhuma intenção de promover um diálogo franco e producente entre os empresários e os trabalhadores, além da incômoda falta de representantes do mundo do trabalhado na equipe do novo governo.
* Este artigo foi publicado antes da posse do Novo Governo (Jornal O Tempo, Belo Horizonte, MG. 20.12.2018, pág. 29).