O processo eleitoral já é coisa do passado. Para além das críticas e autocríticas necessárias para entender o processo que elegeu democraticamente o terceiro militar para a presidência da República, é preciso um gesto de nobreza, é preciso pensar com a cabeça, e não com o fígado o coração. Jair Bolsonaro será o próximo presidente do Brasil a partir de 1º de janeiro de 2019 e precisamos, juntos, torcer para que ele consiga pacificar o país e fazê-lo crescer.
Para que isso aconteça, é preciso que Jair Bolsonaro seja uma pessoa diferente do que sempre foi e faça o oposto de tudo o que disse que pretendia fazer. Isso porque todas as soluções que o presidente eleito apresentou durante a campanha são rasas, insuficientes ou, na maioria dos casos, ineficazes.
Não teremos melhora significativa na educação pública investindo na censura ao pensamento crítica e na proibição de alguns vieses em detrimento a outros, e muito menos tirando as crianças da sala de aula para que elas aprendam a ser cidadãs em casa, com ensino a distância.
Também não vamos ter mais segurança sem a redução da desigualdade profunda que ainda divide o país. Facilitar o acesso e o uso de armas de fogo e dar carta branca para as forças de segurança aumentar as estatísticas do genocídio negro e pobre das periferias não está na lista de coisas que farão do Brasil um país mais seguro.
Nossa economia não estará mais estável se privatizarmos nossas estatais mais importantes, como a Petrobras, a Eletrobrás, o Banco do Brasil, a Caixa e os Correios, mas mais vulnerável sem as proteções que manter setores estratégicos para o país garantem. Não teremos mais empregos se não aumentando a renda dos mais pobres, cortando impostos sobre consumo, incentivando o mesmo e fazendo a economia girar. Não há aumento de produção sem aumento de demanda.
Não teremos mais liberdades perseguindo opositores políticos, movimentos sociais e ativistas com viés ideológico divergente de Bolsonaro. Não seremos mais livres sem direitos e garantia de dignidade para LGBT, negros, mulheres, pessoas com deficiência e outas minorias políticas. Não seremos mais plurais sem democratização da imprensa e liberdade para o livre exercício do jornalismo. Sem essas coisas, estaremos mais próximos da Venezuela que os eleitores de Bolsonaro podem admitir.
Para que o Brasil cresça, se desenvolva, corrija injustiças históricas e tenha um futuro de esperança, é preciso que o presidente eleito não seja ele mesmo, não faça o que sempre disse que iria fazer, não dê poderes para as pessoas que ele sempre disse que daria e não empodere opressões históricas que sempre balizaram sua vida pública.
Sorte para o presidente eleito e, principalmente, para os brasileiros.