Francisco fez cardeal o Esmoleiro Pontifício, Konrad Krajewski, encarregado do cuidado com os pobres de Roma. Este último quis comemorar sua nomeação com um jantar a seus pobres no dia 29, festa dos apóstolos Pedro e Paulo. Foram 200 os convidados, escolhidos nas estações de trem e na comunidade Santo Egídio, servidos por oitenta voluntários. De surpresa, à tardinha, chegou Francisco, que veio festejar ao lado de pobres sem moradia fixa. E foi logo dizendo ao novo cardeal: ”Não vim por tua causa, mas vim por eles”, seus irmãos os pobres, antes de sentar-se afetuosa e tranquilamente ao lado deles. Era também a festa do bispo de Roma, da cátedra de Pedro, que desejou assim marcar seu dia.
O comentário é de Luiz Alberto Gomez de Souza, sociólogo.
Francisco fez um sinal inequívoco da opção preferencial anunciada por Medellín e por Puebla e que Dom Hélder quisera que tivesse sido central no Vaticano II. Francisco, na prática mais do que nas palavras, indica como viver o seguimento de Jesus em meio aos mais marginalizados. Saberão tantas igrejas locais superar estilos caducos de pompa e de poder e transformá-los em sinais de carisma e de serviço? Por indicar esse caminho, Leonardo Boff foi obrigado, faz alguns anos, a um “silencio obsequioso”. Agora é Francisco quem sinaliza esse percurso e desafia velhos hábitos. Não é o “supremo pontífice” dos títulos herdados do paganismo, nem o “santo padre o papa” na bajulação das hierarquias, mas simplesmente Francisco, bispo de Roma que veio lá do fim do mundo, que trocou aposentos de fausto renascentista por um espaço de peregrino no albergue Santa Marta. E que está à disposição de quem o procura na busca incansável da misericórdia.
Fonte IHU