Como serão essas eleições? Ouço essa pergunta todos os dias nos trabalhos de base, nas entrevistas nas rádios, nas mídias alternativas e eu mesmo me faço essa pergunta sempre.
Numa reunião de um grupo de reflexão que se chama Novos Paradigmas, do qual participo, a pergunta era exatamente a mesma. E olha que ali tem professores universitários, intelectuais orgânicos aos movimentos populares, gente militante de partidos, assim por diante.
A conclusão do grupo é que nada está seguro, tudo está incerto. Somente podemos projetar alguns cenários. Eu coloco aqui, então, cinco cenários que parecem os mais prováveis.
Primeiro, haverá eleições gerais com Lula candidato “sub judice”, isto é, como o processo não está concluído, o tal “trânsito em julgado”, então a lei não pode proibi-lo de se candidatar. Mas, depois da eleição, pode ser impedido se for condenado. Claro, o judiciário teria que enfrentar mais uma vez a vontade popular, retirando o poder de um candidato eleito pelo povo, assim como fez no golpe contra Dilma Rousseff, processo iniciado no Congresso, legitimado pelo Judiciário. Nesse caso, o caos político se aprofunda. Se puder exercer o mandato, será a suprema humilhação da burguesia nacional em 500 anos.
Segundo, ao arrepio da lei, Lula é impedido de concorrer. Esse fato pode gerar revolta popular e grande parte da população vai votar branco ou nulo como indicam as pesquisas. Quem assumir estará sempre com a pecha de ilegítimo, de subcandidato, que só ganha porque Lula foi proibido.
Terceiro, alguém do PT assume a candidatura no lugar de Lula e, apoiado por ele, concorre às eleições. Últimas pesquisas dizem que ele pode transferir de 30 a 47% do eleitorado para quem ele apoiar. Lula pode também apoiar um candidato de outro partido, mas esse caso é menos provável, dada a força do PT.
Quarto, é não ter eleição, seja pela deposição de Temer e sua substituição por Maia prorrogando o mandato de todos, ou então, uma eleição indireta no Congresso. Essa possibilidade ficou mais fraca depois que a Ministra Carmen Lúcia fez um ensaio de parlamentarismo e foi rechaçada até pela Folha de S. Paulo. Porém, o desprestígio de Temer é tamanho que ainda pode abrir brecha para essa possibilidade.
Quinta possibilidade, cada vez mais remota, seria a intervenção militar. Ela já foi mais plausível, mas perdeu força depois da greve dos caminhoneiros. Não houve unanimidade dentro do Exército para a intervenção e eles mesmos não saberiam o que fazer com um país caótico. Preferem tirar a castanha do fogo pela mão do gato, isto é, o serviço sujo fica com o judiciário e os generais monitoram.
Enfim, a única certeza é que se deve investir seriamente na eleição de um novo Congresso – deputados e senadores – para equilibrar as forças no país. É preciso também pensar nos governadores e deputados estaduais. Nesse sentido, já tomei minha decisão, não voto em absolutamente nenhum golpista.
Por fim, eleição não é o único mecanismo democrático de uma nação. A democracia direta, as ruas, as pressões populares sempre serão indispensáveis, inclusive hoje nas redes sociais.
De resto, só incerteza.
Por Roberto Malvezzi