Nos anos pré-2001, estava no poder o governo do PSDB, Partido Social Democrata Brasileiro que, apesar do nome, é fiel adepto da religião fundamentalista “Privatiza que Resolve”.
Mesmo sem agência de regulação, privatizou duas distribuidoras, a Light e a Escelsa. Naquela época, isso já era algo inimaginável no cenário da filosofia do Estado regulador. Mas no Brasil tudo é possível e fica por isso mesmo!
Como preparava a privatização das empresas da Eletrobrás, interrompeu os investimentos na expansão para que as empresas a serem privatizadas não carregassem obrigações de investimento e nem fizessem novas dívidas.
O grande problema desse partido é que ele pensa estar na Suíça. Certamente nunca examinou a evolução do consumo de energia elétrica num país em desenvolvimento como o Brasil. Se tivesse se dado a tal trabalho, veria que a cada ano precisamos de novas usinas. Nesse período, a carga registrava um aumento de 5.000 MW médios/ano.
Os engenheiros do setor sabem que isso não se consegue com poucas usinas. Mas, acreditando que os recursos financeiros do “mercado” eram infinitos, apesar de vender usinas prontas, achava que os investidores iriam suprir o freio das estatais.
Resultado? A fé não foi suficiente, pois surgiu o racionamento de 2001. Pelo porte, 25% da carga, só se conhece situação semelhante em países em guerra. Muitos se lembram da tática do improviso adotada para tentar corrigir o erro: o Programa Prioritário de Termoelétricas que até hoje joga custos nos bolsos dos consumidores.
Mas, o curioso é um personagem central da tragicomédia, o ministro Pedro Parente, o administrador do apagão. Dentre o conjunto de decisões estúpidas, havia uma que se assemelha muito à atual crise Caminhoneiros x Petrobras. Uma linha de transmissão, que ligava o sistema sul ao sudeste, Ibiúna–Bateias, era um dos investimentos adiados em nome do “Privatiza que resolve”. Uma linha com pouco mais de 40 km iria ampliar a oferta de energia na região sudeste em 2.000 MW médios, um bom alívio para o racionamento. Não foi construída. E aprofundou o racionamento, claro!
Vejam a semelhança entre o transporte de energia entre usinas e consumo com o transporte de mercadorias entre refinarias e postos. O Dr. Pedro Parente, considerado um excelente administrador de carências criadas pelo seu próprio governo, está outra vez no centro do palco como ator principal dessa tragicomédia. Será que ele tem uma implicância com “transportes”? O negócio é impedir o transporte, seja de corrente elétrica, seja de caminhões?
Querem nos convencer de que o prejuízo da Petrobras foi causado pela contenção dos preços dos derivados durante o governo do qual o atual é o vice. Mas basta qualquer um considerar a inflação do período para ver que as diferenças são incapazes de causar o estrago que todos nós conhecemos. Na realidade, o buraco tem muitos nomes: Pasadena, Abreu e Lima, COMPERJ, Sete Brasil e outras. Além de péssimos negócios, todos abarrotados de corrupção.
Nem 8 (PT) e nem 80 (PSDB). A solução é gestão, prática que esse governo e o anterior não dominam, haja vista o caos implantado no setor elétrico, onde são sócios. PSDB, certamente um Partido Sem Discernimento Básico.
Roberto D’Araujo foi consultor da Eletrobrás e é diretor do Instituto Ilumina.