Cresce entre os humanos, hoje, a barbárie. Estamos cada vez mais confrontados aos males e sofrimentos gerados por nós próprios. A humanidade está, então, entrando no “corredor da morte”, sem possibilidade de retorno? Essa reversão, para quem crê, é, evidentemente, possível. Afinal, “para Deus nada é impossível” (Lc 1,37). Com ele, podemos recriar a vida e a humanidade.
Deus, na perspectiva cristã, tem um projeto de vida em plenitude para os seres humanos, pois ele é pleno de humanidade. A encarnação e a ação libertadora de Jesus, seu confronto com os poderes geradores de exclusão, injustiça e morte, o dom total de sua vida, sua ressurreição e a ação vivificante de seu Espírito, atestam o desejo de Deus de nos tornar plenamente humanos.
Jesus é, portanto, paradigma de uma nova humanidade. Sendo tão humano assim, só podia ser Deus. Por isso, ele inspira os seres humanos a se tornarem plenamente humanos. Essa visão otimista não cai por terra diante dos males, dos sofrimentos e da morte que os seres humanos geram? Onde encontrar resposta a essa questão senão nas Sagradas Escrituras.
As Escrituras mostram que a criação, como dom de Deus no passado, se refaz no presente. Elas mostram que nosso horizonte é também de vida. No entanto, somos livres para escolher entre vida e a morte (cf. Dt 30,15-18). Escolhemos a morte quando impomos limites ao amor. Deus, no entanto, nos liberta desses limites desafiando-nos a relações de qualidade sempre mais profundas.
Uma pessoa isolada e excluída é uma pessoa condenada à morte. As relações egocêntricas e injustas impedem os humanos de viver intensamente, frustram lhes e os lançam no vazio. A natureza não cuidada é também um bumerangue para o ser humano. O mal, o sofrimento e a morte são, neste caso, limites possíveis de serem superados? Sim, pela vivência do amor.
Qual tipo de amor? O testemunho de Jesus é inspirador. O centro de sua ação é o ser humano. Ele os emancipa e abre-lhes novos horizontes, libertando-os de poderes que massacram. Sua utopia de uma humanidade solidária se tornou utopia de seus discípulos, desafiados a testemunhar o caráter profundamente revolucionário da íntima comunhão entre divindade e humanidade.
Desde então, os cristãos passaram a se referir a essas duas naturezas de Cristo, divindade e humanidade, acentuando, ora uma, ora outra. Hoje, ainda, uns acentuam sua humanidade; outros, sua divindade. Em consequência, se orientam mais pelo amor ao próximo ou pelo amor a Deus. Na realidade, ambas dimensões se interligam.
O próprio Cristo ensinou: “Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, toda a tua alma, todo o teu entendimento e todas as tuas forças; este é o primeiro mandamento. O segundo mandamento, amarás o teu próximo como a ti mesmo, é semelhante a esse. Não há outro mandamento maior do que esses” (Mc 12,30).
Seremos capazes, então, de reverter nosso destino trágico? Com certeza, se presentificarmos o amor divino em nossa convivência e em todas as realidades do mundo, com o otimismo de quem crê no destino que Deus nos propõe escolher: a plenitude de vida.
Jales, 23 de maio de 2018