A Opção pelos Pobres e a urgência da Missão. 40 anos de Medellín
Agenor Brighenti *
A Segunda Conferência dos Bispos da América Latina e o Caribe, realizada em Medellín em 1968, é muito mais do que um Documento. Na celebração de seus 40 anos, sobretudo quando a relacionamos com Aparecida, se constata que Medellín é um espírito, um ponto de partida, que continua fazendo caminho em nossas comunidades eclesiais. Sua força está na ousadia de buscar fazer uma “recepção criativa” do Concílio Vaticano II na América Latina, tarefa assumida, ainda pelas Conferências posteriores. Para Medellín, não se tratava de simplesmente implementar o Concílio, mas de recebê-lo de forma contextualizada, buscando situar “A Igreja na atual transformação da América Latina”. O tempo se encarregaria de mostrar que se tratava de uma aventura permeada de riscos e conflitos, mas, sobretudo de resultados alvissareiros, tanto que foram de certa forma resgatados e re-impulsionados pela recente Conferência de Aparecida. Em outras palavras, na fidelidade às intuições e eixos fundamentais do Concílio, com Medellín houve “encarnação”, diríamos hoje “inculturação”, e “desdobramentos”, fazendo do Concílio não só um ponto de chegada, mas especialmente um ponto de partida. Com Medellín, a Igreja na América Latina deixou de ser uma “Igreja reflexo”, para desencadear um processo de tecitura de um rosto e de uma palavra próprios.
Nosso propósito, aqui, não é fazer uma abordagem da Conferência de Medellín e suas conclusões. Vamos revisitar este evento, nos limitando a fazer vir à tona, à luz do Concílio Vaticano II, o que está relacionado à missão evangelizadora, particularmente em sua perspectiva de “diakonía” na história, sob a ótica dos pobres, a característica maior de sua originalidade.
- O novo posicionamento missionário do Vaticano II
Ainda que, como diz Aparecida, tenha faltado empenho e coragem para levar a diante a renovação trazida pelo Concílio Vaticano II, certos revisionismos e retrocessos a posturas pré-conciliares na atualidade, só confirmam o divisor-de-águas que este “kairós” representa na Igreja. Em sua denominada “volta às fontes” bíblicas e patrísticas, o Vaticano II rompeu com o eclesiocentrismo e o cristomonismo que caracterizou a autoconsciência da Igreja, sobretudo durante o segundo milênio, superando o paradigma agostiniano pelo resgate do paradigma irineano. Ter presente o novo posicionamento missionário do Concílio é condição indispensável para entender e caracterizar a proposta missionária de Medellín.
A superação do eclesiocentrismo
O novo posicionamento missionário do Vaticano II deve-se, em última instância, à superação do eclesiocentrismo reinante há mais de um milênio. A principal implicação tinha sido o eclipse do Reino de Deus na auto-compreensão da Igreja. De “mediação” da salvação trazida por Jesus a todo o gênero humano, a Igreja apresenta-se como um fim. Conseqüentemente, “fora da Igreja não há salvação” (extra ecclesiam nulla salus). A missão, nesta perspectiva, em lugar de buscar encarnar o Evangelho, vai consistir em implantar a Igreja. E, em um contexto eurocêntrico, onde se pensa que se dá a única civilização digna deste nome, a missão conflui na proliferação de Igrejas-filhas, idênticas à mãe, uma Igreja monocultural. Evangelizar é sair para fora da Igreja, para trazer pessoas para dentro dela. O catolicismo, enquanto religião do Estado, fará cristãos não suficientemente convertidos e evangelizados. É o denominado “substrato católico” de uma cultura supostamente de “unanimidade cristã”. A incorporação à Igreja, como no caso do regime do Padroado na América Latina colonial, correspondia fazer do fiel um vassalo do rei.
A superação do cristomonismo
A eclesiologia do segundo milênio caracteriza-se entre outros por um cristomonismo, que eclipsa sua matriz trinitária. Fundada em uma cristologia docetista, a autoconsciência da Igreja, ao identificar-se com o Corpo do Cristo Glorioso e Ressuscitado, historicamente, tende a reduzir a eclesialidade aos cabeças deste Corpo, que são os clérigos. Leigo é aquele que não é clérigo, aquele que não é, pois não tem um lugar próprio na Igreja. É um destinatário, quando não um consumidor dos sacramentos que a hierarquia dispensa ou, no máximo, uma extensão de seu braço, numa perspectiva de cooperação com seu ministério.
Ao resgatar sua matriz trinitária – “a Igreja é o corpo dos três” (do Pai, do Filho e do Espírito Santo, dizia São Basílio) – a Igreja no Vaticano II vai autocompreender-se como “comunhão” (koinonía): uma única classe de cristãos, os batizados, entre os quais, a exemplo do que acontece no interior da Trindade, na diversidade de ministérios, “há uma radical igualdade em dignidade” entre todos. O sujeito eclesial, em lugar da hierarquia, passa a ser toda a comunidade (“a Igreja somos nós”) e, conseqüentemente, também o sujeito da missão é a comunidade dos fiéis, chamada a fazer chegar a salvação de Jesus Cristo a todo o gênero humano. Com isso, a finalidade da missão deixa de ser a implantação da Igreja, para constituir-se no testemunho e anúncio gratuito do Evangelho, cuja acolhida redunda na comunhão com Deus de todos os seres humanos.
O resgate do paradigma irineano
Para compreender o novo posicionamento do Vaticano II em relação à missão é elucidativo ter presente dois paradigmas teológicos distintos, presentes na história da Igreja: um bíblico-semita e outro greco-latino. Eles se configuraram no período patrístico, sendo que o primeiro foi logo eclipsado pela hegemonia do segundo, ainda no mesmo período. Trata-se da tradição irineana (Irineu de Lion) e da tradição agostiniana (Agostinho de Hipona). O Concílio Vaticano II, mil e quinhentos anos depois, resgatou a tradição irineana, eclipsando a agostiniana. Nos últimos tempos, a encíclica Deus caritas est, finalmente superará o dualismo grego, exógeno à revelação judaico-cristã.
A tradição irineana, fundada numa antropologia unitária, no seio de uma única história, profana e de salvação, tem como pano-de-fundo a unidade entre o Plano da Criação e o Plano da Redenção. A salvação é concebida a partir do Plano da Criação. O Plano da Redenção recapitula, restaura e restitui o primeiro (anakephalaiosis), não o substitui. A história da salvação começa com a Criação. A obra da Criação e a obra da Redenção são atribuídas tanto ao Filho quanto ao Espírito, dado que é o mesmo Pai, que atua pelos seus ‘dois braços’ ou ‘mãos’. O Plano da Redenção, enquanto recapitulação, é restauração ou restituição do estado primitivo, ou seja, o ser humano criado à imagem e semelhança de Deus, potencialmente bom. Em Cristo se vinculam o princípio (Alfa) e o fim (Ômega). Nesta perspectiva, para Irineu, “a gloria de Deus é o ser humano vivo e a glória do ser humano é a vida em Deus”.
A segunda tradição, o paradigma agostiniano, se funda numa antropologia dualista (espírito encarnado), confrontada com duas histórias – a profana e a sagrada. A primeira, de perdição e, a segunda, de salvação, tem como pano-de-fundo a separação entre o Plano da Criação e o Plano da Redenção. Como o pecado original corrompeu a natureza criada, a história da salvação começa com o Plano da Redenção. A ressurreição do Novo Adão é graça libertadora da massa damnata pelo pecado do velho Adão. Neste paradigma, a história da salvação começa com a promessa do Messias e se consuma na Cruz. Salvação é perdão dos pecados (harmatologia) e o caminho da Igreja é a glória de Deus.
No seio de cada uma destas tradições, a missão se configura em projetos distintos. Na tradição irineana, a salvação está em acolher o Reino de Deus, também presente fora da Igreja; na tradição agostiniana, a salvação consiste em acolher o Reino na Igreja, pois não existe salvação fora da Igreja. Na tradição irineana, a missão se dá no mundo e para a salvação do mundo; na tradição agostiniana, a missão consiste em incorporar o mundo à Igreja, em sacralizar o profano.
- O novo posicionamento missionário de Medellín
O que o Concílio representa para a Igreja no mundo, o ‘evento Medellín` significa para a Igreja na América Latina, na medida em que se propôs aterrizar as intuições e eixos fundamentais do Vaticano II em nosso próprio contexto, periférico e empobrecido. Medellín dá à Igreja na América Latina uma palavra própria, uma fisionomia autóctone, deixando de ser ‘reflexo’ ou caixa de ressonância de uma suposta “Igreja universal”, para constituir-se numa fonte inspiradora e programática para as Igrejas Locais. A auto-compreensão da Igreja, em estreita fidelidade às intuições básicas e aos eixos teológico-pastorais do Concílio Vaticano II, foi mola propulsora de uma missionariedade em perspectiva profética e transformadora, engendrando no Continente o que temos de mais precioso – os milhares de mártires das causas sociais. Estes continuam inspirando o discipulado e a missão, num Continente onde a vida se vê cada vez mais ameaçada por sinais de morte, oriundos de um modelo social excludente, frente ao qual se ergueu a profética tradição da tradição latino-americana. Em Medellín, ecoou o grito do sofrimento dos pobres, que delatava o cinismo dos satisfeitos.
A tradição latino-americana, que começa com Medellín, não é propriamente algo novo, mas conseqüência e desdobramento das intuições e eixos fundamentais do Concílio Vaticano II no próprio contexto. Mais do que um documento é um horizonte aberto de esperança e realizações, particularmente para a missão evangelizadora. Vejamos, na seqüência, as principais características da missão em Medellín, à luz do Concílio Vaticano II.
Koinonía e Comunidades Eclesiais de Base
O Vaticano II, resgatando a matriz trinitária na auto-compreensão da Igreja, concebeu a Igreja como a comunidade dos batizados, na comunhão da radical igualdade em dignidade de todos os ministérios. A missão é para a comunhão dos fiéis e de todo o gênero humano. Para Medellín, a forma mais adequada de se fazer uma real vivência da fraternidade cristã é no seio de comunidades de base. Trata-se de comunidades “de apóstolos em seu próprio ambiente” (Med 7,4), comunidades pequenas, de tamanho humano, que permitem a ministerialidade e a corresponsabilidade de todos. “No seio do Povo de Deus, há unidade de missão” (Med 10,7), em que as CEBs são “o primeiro e fundamental núcleo eclesial, a célula inicial de estruturação eclesial, foco de evangelização e fator primordial de promoção humana e desenvolvimento”, o “rosto de uma Igreja pobre” (Med 15,10). A missão é para a comunhão em pequenas comunidades de fiéis, em vista da fraternidade entre todos os seres humanos.
Sujeito eclesial e sujeito da missão
O Vaticano II, ao afirmar a base laical da Igreja, fundada no tríplice ministério da Palavra, da Liturgia e da Caridade, faz da comunidade dos fiéis o sujeito eclesial, fazendo a passagem do binômio clero-leigos para o binômio comunidade-ministérios. Medellín verá a Igreja como comunidade, toda ela, em cada um de seus membros, sem distinção, inteiramente missionária. Há uma “dimensão missionária da vida eclesial” (Med 9,6). A Igreja é posta na base, onde cada um, no seio da comunidade, é “apóstolo em seu próprio ambiente”. Constata Medellín, que “até agora houve uma pastoral de conservação, alicerçada na sacramentalização, sem ênfase na evangelização” (Med 6,1). Entretanto, é preciso “assegurar uma séria evangelização pessoal e comunitária” (6,8). Como “Deus não quis salvar-nos individualmente, mas constituídos em comunidade”, é a comunidade, inteira, que está “convocada a uma missão comum” (Med 6,13). Para isso, a evangelização implica a “formação de uma fé pessoal, adulta, interiormente formada, operante e continuamente confrontada com os desafios” (Med 7,13).
Igreja Povo de Deus e Igreja dos pobres
O Vaticano II vê na koinonía dos batizados o novo Povo de Deus que peregrina com toda a humanidade, à imagem do antigo Povo de Deus. O destino do Povo de Deus não é diferente do destino de toda a humanidade, pois Deus quer salvar a todos e Jesus trouxe a salvação para todos. Na perspectiva de João XXIII – “uma Igreja dos pobres para ser a Igreja de todos”, Medellín conclama todos os batizados a ser uma Igreja pobre, para dar testemunho de uma Igreja solidária, samaritana, com a situação e a causa dos pobres, que é um mundo justo e solidário para todos. “A pobreza da Igreja deve ser sinal e compromisso de solidariedade com os que sofrem” (Med 14,7). Não esquecer que o mensageiro também é mensagem; que a instituição eclesial, em sua organização e estruturas, também é mensagem. Ser Igreja dos pobres para ser a Igreja de todos, convidando os incluídos a comprometer-se com a inclusão dos excluídos. A missão, enquanto testemunho de Jesus que sendo rico se fez pobre para nos enriquecer com sua pobreza, passa pela vivência e testemunho de uma Igreja pobre, expressão da força e horizonte de credibilidade do Evangelho.
Opção pelo ser humano e opção pelos pobres
O Vaticano II, conseqüente com o dogma da Encarnação, faz a opção pelo ser humano, na medida em que a Igreja, a exemplo de Jesus que veio para servir e não para ser servido, existe para a diakonía do ser humano na história. Para Paulo VI é preciso conhecer o ser humano para conhecer a Deus (Ecclesiam suam). Medellín, ao optar pelo ser humano, dada a situação dos excluídos, que são os preferidos de Deus, opta antes pelos pobres (Med 14,9), pois se trata de promover a fraternidade de todo o gênero humano, dos filhos de Deus. Esta opção consiste em fazer do pobre, não um objeto de caridade, mas sujeito de sua própria libertação. Diz Medelllín que “a promoção humana será a perspectiva de nossa ação em favor do pobre, respeitando sua dignidade pessoal e ensinando-lhe a ajudar-se a si mesmo” (Med 14,10). Por isso, a opção pelos pobres, mais que um trabalho prioritário, é uma ótica que leva a todos a partir do pobre, em vista de um mundo inclusivo de todos.
Inserção no mundo, mas dentro de quê mundo?
O Vaticano II, superando o eclesiocentrismo, bem como o dualismo entre sagrado e profano, temporal e espiritual, corpo e espírito, afirma que a Igreja, ainda sem ser deste mundo, está no mundo e existe para ser mediação de salvação do mundo. Para isso, precisa encarnar-se nele, assumi-lo, para transfigurá-lo e redimi-lo. Medellín dirá que, “em relação com os sinais dos tempos, a evangelização não pode ser a-temporal, a-histórica”. Antes, ela deve “realizar-se, através do testemunho pessoal e comunitário, que se manifestará, de um modo especial, no contexto do compromisso temporal” (Med 7,13). Por isso, “cabe evitar o dualismo entre tarefas temporais e santificação” (Med 11,5) ou a “dicotomia entre Igreja e Mundo” (Med 11,6). Cabe à evangelização “explicitar os valores da justiça e da fraternidade, nas aspirações de nossos povos, numa perspectiva escatológica” (Med 7,13). E mais que isso. Medellín se perguntará: a Igreja deve inserir-se no mundo, mas dentro de que mundo? Do mundo dos incluídos ou dos excluídos para promover um mundo inclusivo de todos?
Assim, além da opção pelo sujeito social – o pobre, a missão evangelizadora em vista da salvação já na história e que passa pela construção de uma sociedade justa e solidária, implica igualmente a opção pelo lugar social dos pobres. Por isso, Medellín, afirmando que “a evangelização precisa, como suporte, de uma Igreja sinal” (Med 7,13), incentiva “a todos os que sentem a vocação de compartilhar a sorte dos pobres, viver com eles e trabalhar com suas mãos” (Med 14,15). A missionariedade, dado que o mensageiro também é mensagem, passa por um testemunho é um anúncio encarnado no mundo dos pobres.
Evangelização e promoção humana
Para Medellín, a superação feita pelo Vaticano II de todo dualismo entre corpo e espírito, temporal e espiritual, ao conceber a salvação como redenção da pessoa inteira e de todas as pessoas, tem como conseqüência para a evangelização o estabelecimento de laços entre evangelização e promoção humana (Med 7,9). “A obra divina de salvação é uma ação de libertação integral e de promoção humana” (Med 1,4). Primeiro, respaldados em uma antropologia unitária, trata-se da Igreja ser mediação de salvação da pessoa inteira, em todas as suas dimensões. Segundo, conseqüente com o Vaticano II que afirma a vontade de Deus de salvar em comunidade, a promoção humana implica no estabelecimento de estruturas justas, como condição para uma sociedade justa. Medellín toma consciência que o pecado pessoal transvazou para as relações sociais, para as instituições e estruturas, gerando um pecado social. Sua erradicação implica a conversão, além das pessoas, a conversão também das estruturas. Com isso, a salvação se faz libertação – “toda libertação é já uma antecipação da plena redenção em Cristo” (Med 4,9). “Não teremos Continente novo, sem novas e renovadas estruturas” (Med 1,3), sem “o desenvolvimento integral de nossos povos” (Med 1,5).
Para Medellín, trata-se de “mostrar a unidade profunda entre o plano salvífico de Deus, realizado em Cristo, e as aspirações do ser humano; entre a história da salvação e a história humana; entre a Igreja e as comunidades temporais, excluindo toda dicotomia ou dualismo” (Med 8,4). Assim, a missão implica em “assumir totalmente as angústias e as esperanças do homem de hoje, a fim de oferecer-lhe as possibilidades de uma libertação plena” (Med 8,6). Como “o desenvolvimento integral do ser humano é a passagem de condições menos humanas a condições mais humanas” (Med 2,14a), a libertação integral da pessoa inteira e de todas as pessoas leva a missão também para o âmbito das estruturas e das instituições.
Diakonía histórica e profetismo
O Vaticano II situa a Igreja como um Corpo de serviço de Deus no mundo, numa atitude de diálogo e colaboração com as demais Igrejas, religiões e pessoas de boa vontade. É o exercício da diakonía na história, a exemplo de Jesus que “veio para servir e não para ser servido”. Medellín, em sua opção pelos pobres e seu lugar social, faz da diakonía um serviço profético. A evangelização “se concretizará na denúncia da injustiça e da opressão” (Med 14,10).
Em conseqüência, o compromisso pode levar ao martírio, ao dar a vida para que outros tenham vida. Com Medellín surge um novo perfil da vocação à santidade, como expressão da vivência da fé cristã na fidelidade à opção pelos pobres em uma sociedade injusta e excludente. A missão, por sua vez, adquire um caráter profético, tornando-se sinal de contradição para os opressores e suas estruturas injustas. E, à figura do missionário, associa-se o testemunho dos mártires das causas sociais.
A modo de conclusão
A renovação do Vaticano II passa pela ousadia de Medellín, que radicaliza suas intuições, particularmente tirando conseqüências para a ação evangelizadora e missionária da Igreja no mundo de hoje. Medellín faz da Igreja-comunidade, uma Igreja em pequenas comunidades de base; da comunidade enquanto sujeito eclesial, a comunidade toda ela missionária; da Igreja Povo de Deus, a Igreja dos pobres para ser a Igreja de todos; da opção pelo ser humano, uma opção pelos pobres; da inserção da Igreja no mundo, sua inserção no mundo dos excluídos; da evangelização da pessoa inteira, uma promoção humana, da pessoa inteira e de todas as pessoas, na abertura à escatologia; enfim, da diakonía histórica, um serviço profético, fiel até o martírio.
Este modelo de missão, longe de ver-se superado, foi resgatado e re-impulsionado por Aparecida, pois, nossa hora é de uma Igreja “em estado permanente de missão”, para que, num mundo cada vez mais marcado pela exclusão, “nossos povos tenham vida em Jesus Cristo e a tenham em abundância”.
* Doutor em Ciências Teológicas e Religiosas na Universidade Católica de Louvain (Bélgica). Professor de Teologia no Itesc e na Universidade Pontifícia do México. Presidente do Instituto Nacional de Pastoral da CNBB